ÚLTIMA HORA: Cristiano Ronaldo e Donald Trump

Já falei do nosso ‘modus operandi’. Quando há um jogador lesionado, não está na Seleção. Quando há um jogador que tem cartões, não está na Seleção, porque o foco dele não é o de jogar. (…) O Cristiano já teve cartões contra a Eslováquia, e o jogo seguinte, contra o Luxemburgo, foi a maior vitória de sempre, e o Cris não estava. São perguntas que são uma falta de respeito para o Cristiano e para os jogadores que estão na Seleção. É como se estivessem a questionar o compromisso do Cristiano. Por que é que vamos falar disso? É o nosso capitão, ganhou muitos jogos pela Seleção, o compromisso é impecável. Tem cartões e não consegue estar aqui. Faz parte da nossa forma de trabalhar

Também tivemos críticas que acho que não são certas, factos que são opiniões e isso não ajuda a Seleção. É uma pena não esperar pelo fim do apuramento para as pessoas que gostam de comentar. Que comentem no fim do apuramento

Criticar quem proferiu as palavras aqui reproduzidas, o selecionador nacional Roberto Martínez, criticar a seleção Nacional e criticar Cristiano Ronaldo não é falta de respeito. Criticar só Cristiano Ronaldo não é sinónimo de inveja, como muitas vezes se aponta o dedo a quem ousa dizer algo sobre um comportamento do melhor do mundo com o qual não concorda.

Podia começar por ressalvar que a carreira de CR7 é exemplar no campo desportivo, que aos 40 anos é inspiração para muitos, miúdos e graúdos, e transpiração que lhe saiu e sai do pelo, determinação que e o levou à glória dos maiores de todos os tempos. Pronto, podia começar e comecei, mesmo não sendo essa a intenção, embora sendo realmente o que penso e por isso admiro o capitão da Seleção Nacional. Mas começar por aqui, como muitos, quase todos, sentimos necessidade de começar antes de criticar Cristiano Ronaldo, diz muito sobre o pudor que temos sempre que ousamos apontar um dedo ao GOAT: é preciso quase sempre pedir antecipadamente desculpa antes de afirmar algo que não gostamos, não concordamos com CR7 ou até simplesmente embirramos. Como não o fazemos com quase mais ninguém. Se não o fizermos, somos invejosos, não podemos ver alguém ter sucesso, como se o sucesso (financeiro ou não) fosse capa contra a crítica.

Já se percebeu que toda esta nota vem a propósito da ida de Ronaldo à casa Branca. Mas não é bem assim. Embora considere que é sítio que nos últimos tempos é muito mal frequentado, não vou por esse tema, nem pelo facto de CR7 ter ido integrado na comitiva da Arábia Saudita, porque só se admira disso quem anda muito distraído: Ronaldo assinou um contrato multimilionário com o regime saudita não apenas para vestir a camisola do Al Nassr, mas sobretudo para o promover, para fazer a lavagem reputacional do mesmo através do desporto, muito mais do que para marcar golos e fazer assistências e sabia ao que ia. E sabia que um dia esse contrato, mais do que numa campanha publicitária ou numa entrevista, iria ser cobrado também na realpolitik internacional. A escolha foi de Ronaldo…

Embora pudesse criticar CR7 por tudo isso, vou criticá-lo não por onde esteve mas por aonde não foi. E o capitão da Seleção não foi ao jogo do apuramento de Portugal, que por sinal teve posteriormente homenagem presidencial. Cristiano Ronaldo não esteve lá e devia ter estado, não devia ter deixado os companheiros e o Presidente de Portugal pendurados.

Criticar Cristiano Ronaldo, a Seleção Nacional e o selecionador Roberto Martínez não é falta de respeito, é apenas um exercício a que todos estamos sujeitos, jogadores, treinadores, políticos, médicos, comerciantes, pedreiros, jornalistas… E a crítica faz falta e não apenas onde, quando e como alguém entende que deve ser feita. Ou então não cumpre a sua função.